‘Não poder participar de uma feira literária é uma derrota para todos que lutam por um mundo da livre expressão', diz Milly Lacombe; veja VÍDEO

  • 16/09/2025
(Foto: Reprodução)
‘Não poder participar de uma feira literária é uma derrota', diz Milly Lacombe A jornalista Milly Lacombe publicou um vídeo nas redes sociais, na noite desta terça-feira (16), se pronunciando sobre o cancelamento da participação dela na Flim, a Festa Litero Musical que será realizada em São José dos Campos. No vídeo, a escritora contou que sofreu ameaças de extremistas e que participar do evento seria um risco para a segurança dela. Lacombe afirmou também que vê como uma derrota o fato de não poder participar do evento - assista o vídeo acima. “Eu ia para a feira fazer uma mesa muito linda, o tema era nós e o outro, ia ser, sem dúvida nenhuma, um debate muito rico, com o Cuti e o Xico Sá, meus amigos, dois escritores sensacionais. Mas um trecho de uma entrevista que eu dei para um podcast que eu gosto muito, foi, viralizou, ele foi manipulado, tirado de contexto, fizeram de um tudo com ele para que esse vídeo servisse à fúria, ao ódio da extrema-direita. Ele foi circular lá por outras bandas e aí a minha participação na feira passou a ser um risco à minha segurança”, declarou Milly. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Vale do Paraíba e região no WhatsApp “Foram muitas ameaças. Não poder participar de uma feira literária é uma derrota para todos que lutam por um mundo da livre expressão”, lamentou. “Mas a gente não está nessa luta porque a gente quer ganhar ou a gente entra nessa luta sabendo que a gente vai ganhar. A gente entra nessa luta por justiça social, porque é a única coisa que a gente sabe fazer, que a gente pode fazer. A vitória não é uma consequência imediata e ela não está dada, mas a gente vai seguir. A gente segue em busca de um mundo mais justo, mais igualitário”, declarou esperançosa. LEIA TAMBÉM: Xico Sá e equipe de curadoria da Flim abandonam festa literária alegando censura Prefeito manda cancelar participação de Lacombe em feira literária após críticas No vídeo, Lacombe contou um pouco sobre a própria história e trajetória, falando sobre sentir na pele as dificuldades e exclusão que uma pessoa LGBTQIAP+ enfrenta na sociedade e, por vezes, dentro da própria família, justificando a fala que fez sobre famílias tradicionais brasileiras e destacando que o que disse na entrevista foi tirado de contexto na internet. “Eu sou uma mulher lésbica, eu fui uma adolescente, uma criança que cresceu numa família muito tradicional, mas me entendi como uma criança LGBT+ muito cedo. E eu sei o que essa sociedade faz com crianças, com jovens, que não se encaixam dentro dessa ideia da família tradicional brasileira, que é uma família hierárquica, uma família que concentra relações de poder muito bem definidas, papéis de gêneros muito definidos e que exclui tanta gente, que exclui tantos espíritos, tantos corpos, tantas almas, tanta criatividade de dentro dela”, narrou. “Eu me especializei em questões de gênero, e todo esse debate que envolve a família tradicional brasileira carrega a questão do gênero, o papel da mulher dentro do lar. E aí eu fui tirada de contexto, teve um corte que fizeram de um vídeo em que eu estava falando justamente isso, a respeito da importância das crianças LGBT+ serem acolhidas, da ideia da gente construir um mundo que entenda a família como esse núcleo de respeito pelo dissidente, de respeito pela opinião contrária, um núcleo que não seja produtor exclusivamente de heterossexualidade. E tiraram de contexto, e a coisa virou uma maluquice que caiu dentro das bolhas da extrema-direita”, disse. Ainda na publicação, Lacombe disse que a repercussão da fala tomou grandes proporções, ao ponto de ser impedida de participar da Flim para a própria segurança. “Então a coisa degringolou, eu ia para uma feira literária em São José dos Campos, eu amo feiras literárias, eu acho que os debates que acontecem lá são sempre muito bonitos e não posso ir, porque existe um risco real imediato à minha segurança”, disse. “Então é uma pena, uma pena que a gente esteja vivendo esse tipo de autoritarismo, essa falta de capacidade da gente entender que a disputa da ideia de família, desse conceito de família, ele é central para a construção de uma sociedade menos violenta. Então, eu luto por um mundo em que a gente entenda a família como um núcleo de amor, respeito e afeto por todos”, completou. ‘Não poder participar de uma feira literária é uma derrota para todos que lutam por um mundo da livre expressão', diz Milly Lacombe Reprodução Flim será realizada no Parque Vicentina Aranha Adenir Brito/Divulgação Prefeitura de São José dos Campos Xico Sá e curadoria abandonam Flim Alegando censura e desrespeito, o jornalista e escritor Xico Sá e a equipe de curadoria da Festa Litero Musical (Flim) anunciaram, na noite desta terça-feira (16), que abandonaram os trabalhos à frente da festa literária em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Os anúncios ocorreram após a participação da jornalista Milly Lacombe ser cancelada na Flim. O Prefeito de São José mandou cancelar a participação da jornalista no evento após a repercussão de declarações dadas por ela ao podcast “Louva a Deusa”, no fim de julho deste ano. No episódio, ela fez críticas ao conceito de família tradicional - leia mais abaixo. Ao g1, Xico Sá disse que decidiu cancelar a participação na mesa de abertura da festa em apoio à jornalista Milly Lacombe e como forma de repúdio ao ocorrido, o que classificou como censura. "Deixo aqui todo apoio e solidariedade à jornalista Milly Lacombe, censurada e silenciada politicamente (a pedido da extrema-direita) pela Prefeitura de São José dos Campos. Como convidado do mesmo evento cultural, comunico, em protesto, o cancelamento da minha participação", disse Xico Sá. Ao g1, Bianca Mantovani, um das curadoras da Flim, contou que a equipe foi pega de surpresa nesta terça-feira com o anúncio do cancelamento da participação de Milly Lacombe no evento. Apesar do prefeito alegar que discutiu a saída de Lacombe com a gestão do evento no sábado (13), apenas nesta terça-feira (16) as curadoras ficaram sabendo da decisão. Elas descobriram o cancelamento por meio de vídeos nas redes sociais. Segundo a curadora, na noite de segunda-feira (15) chegou a ser feita uma reunião online entre a curadoria e a jornalista Milly Lacombe, além do jornalista e escritor Xico Sá e do escritor e poeta Cuti. O trio estava previsto para fazer a mesa de abertura do evento na próxima sexta-feira (19) e debateu ideias se preparando para o evento. “Nós, do coletivo curatorial da FLIM, estamos nos retirando da festa. A censura à participação da Milly Lacombe e o desrespeito com o nosso trabalho é revoltante”, declarou Bianca Mantovani. Em uma nota enviada ao g1, a equipe de curadoria comunicou a saída da festa e repudiou o ocorrido. “É com muita indignação e revolta que nós, curadoras da 11ª Festa Lítero Musical de São José dos Campos - FLIM, comunicamos a nossa retirada da curadoria da festa que estava prevista para iniciar nesta sexta-feira, 19 de setembro. Após termos nos dedicado por um ano à pesquisa, à leitura e reuniões com um mergulho no tema ‘Eu sou porque nós somos’, fomos surpreendidas com a censura à presença de uma de nossas convidadas para a mesa de abertura”, declarou o grupo em nota. “Justamente em uma edição que propusemos discutir a alteridade, a convivência com o outro e a importância do fazer coletivo, uma decisão arbitrária inviabiliza a nossa continuidade no projeto. Enquanto trabalhadoras da cultura que prezam pelo diálogo, pelo pensamento crítico e escuta ativa, nos sentimos desrespeitadas com essa decisão e decidimos, coletivamente, por encerrar nossa participação no festival”, completou a equipe. O documento foi assinado pelas curadoras Alice Penna e Costa, Bianca Mantovani e Tania Rivitti, além de Bruna Fernanda, que é assistente de curadoria da Flim. Ao g1, a Associação para o Fomento da Arte e da Cultura (AFAC), gestora do Parque Vicentina Aranha, informou que “respeita a decisão do coletivo curatorial e informa que continuará trabalhando para a realização do evento” Jornalista Milly Lacombe. Vitor Chambon/Divulgação Agência Brasil Cancelamento da participação de Lacombe A participação da jornalista Milly Lacombe na Festa Litero Musical (Flim) do Parque Vicentina Aranha, em São José dos Campos, foi cancelada após a repercussão de declarações dadas por ela ao podcast “Louva a Deusa”, no fim de julho deste ano. No episódio, ela faz críticas ao conceito de família tradicional. “Esse negócio de família tá f**** a gente. Família é um núcleo produtor de neurose. Essa família tradicional, branca, conservadora, brasileira. Gente, isso é um horror. É a base do fascismo. Falemos a verdade”, disse a jornalista no trecho de um vídeo viralizado nas redes sociais. Apesar do vídeo viral, a fala de Lacombe não aparece na íntegra da participação da jornalista no podcast ‘Louva a Deusa’. O g1 tentou contato com Milly e com a apresentadora do podcast, Sofia Menegon, mas as duas não retornaram os contatos da reportagem. Milly Lacombe era uma das convidadas pela Associação para o Fomento da Arte e da Cultura (AFAC), gestora do Parque Vicentina Aranha, para participar da mesa de abertura da FLIM 2025. Ela estaria na mesa na noite de sexta-feira (19), ao lado do jornalista e escritor Xico Sá e do escritor e poeta Cuti. Os três convidados, inclusive, participaram de uma conversa online com Bia Mantovani, uma das curadoras do evento, sobre a mesa nesta segunda-feira (15), antes do anúncio do prefeito sobre o cancelamento da participação da jornalista. Também nesta segunda-feira (15), o vereador Thomaz Henrique, do PL, que faz oposição a gestão de Anderson Farias, do PSD, divulgou um vídeo criticando a participação da jornalista na Flim. Ele reproduziu o vídeo viralizado, e pediu que a AFAC e as empresas privadas que patrocinam o evento cultural fossem cobradas. Nesta terça-feira (16) pela manhã, foi a vez do líder do governo na Câmara, vereador Zé Luís, do PSD, divulgar um vídeo. A mensagem ignora o vídeo da curadora Bia Mantovani, que ocorreu nesta segunda-feira (15), e fala de uma ação já na sexta-feira (12), portanto antes também do vídeo de Thomaz Henrique, o vereador de oposição. Ao lado de Anderson Farias, Zé Luís começa o vídeo dizendo que conversou com o prefeito sobre a participação de Milly Lacombe na Flim na sexta-feira (12). Anderson também fala no vídeo e destaca na primeira frase que foi procurado na sexta-feira. No vídeo, o prefeito afirma que tomou providências imediatamente após ser procurado por Zé Luís. “Liguei já ao Vicentina Aranha, conversei com o doutor Aldo Zonzini (Filho), que é o nosso diretor-executivo lá da AFAC, que é a entidade gestora, e já decidimos ali, no sábado pela manhã, já foi decidido que nós não íamos mais trazê-la por causa dessas questões da postura dela. A gente respeita. Sem nenhuma crise. Sem nenhuma crítica, mas, não podemos permitir, nem admitir dentro do espaço público pessoas que tenham esse pensamento com relação à família”, afirmou Anderson no vídeo. O prefeito voltou a se manifestar sobre o assunto na tarde desta terça-feira (16). Em suas redes sociais, ele escreveu: “Quero ser claro: a apresentação da ativista Milly Lacombe em São José foi cancelada. Cultura deve unir, não dividir”. O prefeito terminou afirmando que a cultura em São José “não é e nunca será palco político-ideológico”. Aldo Zonzini Filho, gestor da AFAC pelo prefeito, não concedeu entrevista, mas, por mensagem, sem dizer datas, afirmou que realmente foi procurado pelo prefeito para discutir a questão do cancelamento. “Diante disso, fizemos contato com a curadoria do evento e também com a produtora da jornalista, informando a solicitação que nos chegou. A decisão foi tomada em comum acordo como comunicado na nota oficial”, informou Aldo. Por meio de nota, a AFAC informou que “ao longo de 10 edições, a FLIM se consolidou como o maior evento literomusical do Vale do Paraíba e um dos principais do interior paulista” e que “além de promover a arte e a cultura, o evento reforça seu papel como agente da economia criativa, gerando impacto positivo no comércio local e atraindo milhares de visitantes”. Ainda segundo a AFAC, a associação confirma o cancelamento da presença da Milly Lacombe no evento. Eles alegaram que a decisão foi “tomada em comum acordo com a convidada, objetivando preservar a integridade de todos os envolvidos” e que “a associação não compactua com manifestações que não estejam ligadas à atividade fim do evento, que é a promoção da cultura, da música e da literatura”. A Prefeitura de São José dos Campos não quis se manifestar. O podcast “Louva a Deusa” não retornou o contato do g1. A reportagem será atualizada caso as partes se manifestem. Veja mais notícias do Vale do Paraíba e região bragantina

FONTE: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2025/09/16/nao-poder-participar-de-uma-feira-literaria-e-uma-derrota-para-todos-que-lutam-por-um-mundo-da-livre-expressao-diz-milly-lacombe-veja-video.ghtml


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